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Amanda Areias

Pegando um ônibus local no Peru


Foto: https://goo.gl/Jihs3e

18 de outubro de 2016, 19h, estava eu entrando num ônibus que ia de Puno (no sul do Peru) pra Cusco.

Pelo preço mais em conta e pelo horário que me favorecia, resolvi pegar o ônibus local e não o turístico. Entrei no ônibus, arrumei as minhas coisas e me sentei no assento da janela. Depois de alguns minutos, chega pra se sentar ao meu lado uma senhora daquelas bem típicas peruanas. Gorda, cabelo preto, grosso e trançado, chapéu, roupa toda colorida. Me dá boa noite, pega seu pano usado como mala nas costas e começa a tirar vários pacotes pretos da mala; todos muito bem fechados. Coloca alguns pacotes entre o meu assento e o dela, outros coloca embaixo da cadeira, outros em cima do seu assento e os cobre com uma manta.

Eu já estava achando estranho.

Então, ela pega uns três pacotes, aponta pra minha mochila, olha pra mim e diz:

- Puedes llevar eso en tu mochila?

Eu, atônita pela pergunta, logicamente respondi que não, não iria levar seus pacotes de cara duvidosa na minha mochila.

-Pero son solo cucharas! (Mas são só colheres)

- Perdón, pero no voy a llevar sus cucharas en mi mochila, señora.

Ela, já nervosa, começa a falar alto consigo mesma: “Pero son solo cucharas! Pero son solo cucharas! Pero son solo cucharas!”

Me perguntei porque ela não poderia, então, deixar os pacotes dela de “””colheres””” no compartimento para bagagem de mão, em cima da gente. Por que EU teria que levar suas dezenas de colheres para Cusco?

O ônibus então dá partida, ela se senta, abre um tupperware e começa a comer uma comida com um cheiro bem estranho, logo do meu lado.

O onibus mal tinha saído e eu já estava irritada. A mulher não parava de se mexer, estava comendo algo que empesteou o ônibus inteiro, a estrada era horrorosa e ainda por cima tive que passar as oito horas de viagem agarrada na minha mochila com medo de que a mulher a abrisse de madrugada para guardar seus pacotes pretos.

Depois de um bom tempo preocupada, consegui pegar no sono.

Se passam então algumas - poucas - horas e eu acordo com um cutucão no ombro. É uma outra senhora, do mesmo estilo da primeira, em pé no corredor segurando um casaco de pele aberto. Ela me cutuca, e fala:

- Puedes ponerte ese abrigo? (você pode colocar esse casaco em você?)

Eu, já puta da vida por ter sido acordada de um sono que eu demorei um bom tempo pra entrar, olhei pra ela e perguntei:

- Por que?!

- Namas pontelo (só coloca)

- No, gracias. - Respondi, porque continuo me sentindo no dever de ser educada mesmo depois de uma senhora me oferecer pra - muito provavelmente - contrabandear drogas pra ela, e ainda sem ganhar nada em troca.

A senhora vai embora com seu casaco e a primeira mulher vira pra mim e me fala, em espanhol:

- Você podia ter colocado o casaco, né!

Até hoje não tenho certeza do que aconteceu esse dia, ao longo da minha viagem contei essa história pra muitos peruanos e quase todos me disseram que muito provavelmente era contrabando de drogas. Porque, caso o ônibus fosse parado e revistado, as senhoras poderiam colocar a culpa na gringa - no caso, eu.

Conclusão da história: se você quer ter uma viagem de ônibus tranquila e não quer correr o risco de ser presa no Peru por contrabando de drogas, pague 10 reais a mais e pegue o ônibus turístico :)

(Mas se quer ter histórias pra contar e economizar pro almoço do dia seguinte, pega o ônibus local mesmo, rs)

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